× Capa Meu Diário Textos Perfil Livro de Visitas Contato
A Menina da Grota
Perfil

Emergi no seio da roça, genuinamente rural.

Brincadeiras ecoavam, chamando-me de “a menina da grota”, aquela que desabrochou oculta entre montanhas e matas, moldada pelo redemoinho de poeira a cada vendaval. O meu olhar? Admiração pela criação divina.
Transpondo quilômetros pela estrada de terra, por vezes, envolta em puro barro, no cume das lavouras, em meio à exaustão da jornada, silenciava-me.
Com a tenra idade de 7 anos, contemplava o horizonte ao meu alcance e, respirando lentamente, ansiava ouvir as vozes que emergiam da terra.
Envolta pelos ventos e folhas, questionava o homem ao meu lado, envolto na poeira, após um árduo dia de capina na plantação:
Que som é esse, pai?
__ É o “aço” da terra, fia. Ouça, a natureza se comunica com tudo ao seu redor!

 

Passaria horas ao deleite daquela melodia. O motivo: encanto!

 

Cresci no terreirão, na modesta casa de piso queimado, iluminada por lamparinas e banhada pelo querosene. Na noite escura e, para mim, sombria, um som de rodas:
quem é? Sussurrava trêmula.
É o papai chegando..
Entre sombras, uma mão nos afagava, um saquinho de pipoca nos surpreendia. Com o coração palpitante, a alegria de sentir-me lembrada por aquele que, com tão pouco, zelava por nós.

 

Cresci entre as plantações de arroz no brejo ao lado, revezando com os primos, socávamos os grãos num pilão muito maior que nós. Ali, aprendia que, apesar da idade e da estatura diminuta, a vida já demandava que fôssemos fortes e persistentes no que fazíamos, visando o resultado final, o alimento do amanhã.
Não dispúnhamos do que, hoje, o mundo oferece às infâncias, e não éramos menos por isso, estávamos resguardadas da existência dessas privações.

É da roça que trago a serenidade e a convicção de que minha força e determinação emanam dali.
Na roça, compreendi que para tudo na vida existe um tempo: o de semear, regar, vigiar para que a semente não seja roubada, zelar por ela até que cresça, floresça e, somente então, produza os frutos para a colheita e nutrição.

 

É árduo, é custoso, doloroso e, no final, satisfatório.

 

Das conquistas e diplomas, os que mais importam são estes: a força que essa “menina da grota” tem.